quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sanctus Delirious



- Igrejas!! Igrejas!! Meu reino por uma Igreja!
- Igrejas!! Igrejas!! Uma Igreja do Reino!
Gritava o sujeito nas ruas com uma Bíblia mão. Apesar de toda algazarra pouca atenção atraia. Até que um passante, indiferente, mas querendo sossego, protestou:
- Pra quê tanta celeuma? As placas estão aí, escolhas uma e te conforma.
Suspiros profundos, mãos na cabeça:
- Não quero a igreja da placas, elas já não dizem nada, são nauseantes, repulsivas, muitas delas exalam a podridão mística das coberturas idolátricas dos fantoches de Mamon.
Eis que outro se aproximou, e com nítida irritação retruca:
- Cale-se! Acaso atentas contra os ungidos? Recolha-se em seu nada ou venha ao sacrifício.
Olhos fitos, semicerrados, mas de tal modo penetrante que fez seu interlocutor baixar a vista:
- Não sabia que eram ungidos, nem parecem! Pois seus modos, seus feitos, suas falas, seus “evangelhos” de tão idênticos aos senhores e as coisas da terra, embaçaram minha visão que nem vi unção, embora tenha visto bastantes cifrões.
 - Eis aí mais um frustrado! Cachorro morto! Chutai-o longe para não atrapalhar o culto – ameaçou um grupo indignado.
Corpo e indicador em riste, olhar firme e sem medo, a ponto de fazer recuar os salientes agressores:
- O cheiro fétido da rapina de vossos cultos enfastia-me o olfato, o vômito de vossas crenças inúteis embrulha-me o digestivo, o putrefato de seus sacrifícios enoja-me o espírito, a ganância torpe de vossa fé escandaliza o meu Deus.
- Cala-te!
- Cala-te!
- Cala-te!
Gritavam as turbas, os montes, as cavernas, os “crentes”, descrentes, os paletós e as gravatas...
Levantando a Bíblia acima de sua cabeça bradou:
- Não sou eu quem grita. Não sou eu quem brada. A Palavra vos acusa. A Palavra vos condena. A Palavra vos expõe. Os céus são testemunhas e até as pedras falarão por mim. A voz que lhes cortam é a mesma que os séculos não calaram, pois divina, eterna e poderosa ela é. E corta... Espírito – alma, juntas e medulas...
Alguém passando apressadamente, sandália de dedos e compras na sacola, olha com desprezo e ironiza:
- Já não basta tanta igreja e este besta criando drama.  Veja, há uma logo ali, outra aqui e aquela lá. Vai-te! Pois em qualquer caminho é “amém igreja!”.
Caem-lhe os joelhos ao chão. Ergue os braços aos céus:
- Não! Não quero a igreja – metas e seus matemáticos pastores, pois suas ovelhas são números e não gente. Não quero a igreja – propósitos e seus pragmáticos pastores, pois suas ovelhas são frutos do estresse planejado. Não quero a igreja – engessada e seus pastores nostálgicos, pois suas ovelhas cultuam o passado. Não quero a igreja – empresária e seus pastores executivos, pois suas ovelhas são produtos de marca e grife. Não quero a igreja – negócio e seus pastores comerciais, pois suas ovelhas são mercadoria negociável e peças de estoque. Não quero a igreja – mídia e seus pastores estrelas, pois suas ovelhas são marionetes não pensantes. Não quero a igreja – feudo e seus pastores senhores, pois suas ovelhas são vassalas exploradas pelo medo. Não quero a igreja – mística e seus bruxos pastores, pois suas ovelhas são cegas a caminho do abismo. Não quero a igreja – quadrilha e seus pastores bandidos, pois suas ovelhas vítimas incautas.
E continuou...
- Parem! Parem! PAREM!!! SOCORRO!!!
Juntando as mãos dobrando o corpo, as lágrimas rolaram na face.
- Eu quero uma Igreja. Uma Igrejinha. Igreja – gente. Igreja – Corpo. Igreja – Vida e viva. Igreja que não se venda, que não se dobre, que não minta, que não blasfeme, que não negocie. Eu quero Igreja – Deus e não igreja – homem, mas que sendo Igreja – Deus, também seja Igreja – Homem. Eu quero a Igreja! Meu reino pela Igreja! Eu quero a Igreja do Reino, lavada no sangue do Cordeiro. Eu quero a Igre...!
Zás!
Zás!
Pedras rolaram em meio aos cânticos. Chutes vieram em meio a “mistérios”.  Socos surgiram como milagres. Tapas soaram como “visões”. Cuspes jorraram em transes e sonhos. Pauladas desceram em atos proféticos. Pancadas caíram junto a versículos. Paletós e gravatas puxaram-lhes os cabelos.
O corpo inerte estendido no asfalto.
- Amém! Glóoooooooooooooooooorias!!!! – a turba bradou. E, depois, um por um, seguiu para os cultos de peito lavado e missão cumprida.
Então, um ateu, crendo, orou a Deus e tentou reanimá-lo.
Um cético creu, e trouxe-lhe um copo d’água.
Um católico quis chamar a polícia, mas temeu a turba.
E os que não dobraram os joelhos (alguém contou sete mil) socorreram-lhe a vida.
Enquanto isso, dois transeuntes que observaram toda cena, caminhando tranqüilos comentaram:
- Que vem a ser tudo isto?
- É mais um dos delírios dos santos.
E lentamente seguiram para as catedrais humanas.

Em Cristo, na Fé e no Caminho. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

CRIANÇA DO REINO




Quero ser criança do Reino!

Correr para teus abraços quando os perigos desumanos e as procelosas da vida em trágicos rugidos me assustar.
E assim ficar: quieto!
Confiante!
Seguro!
Até que os aceleramentos cardíacos da existência se desaceleram...
E o meu abatido espírito revigora-se no Deus Forte que me guarda,
E o meu coração te aguarda...

Quero ser criança do Reino!
E saber que seguras em minha mão quando o chão do existir, escorregadio e íngreme desafiar meu frágil caminhar.
E assim seguir: resoluto!
Altivo!
Vencedor!
Até que as desfuncionalidades ortopédicas da existência se firmem...
E o caminhar de meu espírito-vida substanciar-se no Deus Caminho que me guia,
E o meu coração se deixa guiar.

Quero ser criança do Reino!
E poder chorar meu choro sem pudor quando intempéries irromper desavisadamente meu ser sossegado, e aflorarem lágrimas compulsivas.
E assim ficar: desarmado!
Entregue!
Rendido!
Até que meu desconsolado ser em Ti seja consolado...
E o pranto de meu espírito – vida, derramado no Deus Consolação, sorri...
E o meu coração se deixa alegrar.

Quero criança do Reino!
E gargalhar feliz o sorriso divino, sem rancores escondidos, sem mentiras orquestradas, sem tristezas perpetuadas, sem abismos solitários, sem os temores humanos.
E assim eu sou: FELIZ!
Bem – aventurado!
Iluminado!
Até que meu circunstanciado ser, em Ti descontinue a dor...
E o existir do meu espírito – vida, transformado pelo Deus Júbilo, cante...
E em meu coração pulsar as notas da música do PAI.

(Para todos aqueles que no Natal querem ser apenas crianças do Reino, no Reino de Deus. Conheço um monte: Tony, Célio, Silvano, Jairo, Belinha, Priscila, Vanda, Elisa, Pedro...)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Crente Esponja, Só Falta a Calça Quadrada




“Julgai todas as coisas, retende o que é bom”
(1ª Ts 5.21)
O discernimento é um dom proveniente de Deus, o que não significa dizer que o cristão, o converso não tenha que exercitá-lo como uma disciplina constantemente evolutiva em sua caminhada. Muito pelo contrário, o discernimento deve ser permanentemente desenvolvido, pois é por este dom que possuímos a capacidade de percepção dos elementos salutares e os nocivos que adentram na Igreja e nos edificam ou transtornam.
O discernimento funciona como um filtro por onde os germes infectos que circulam em torno procurando invadir a Igreja são identificados, sendo barrada sua entrada.
Porém, temos um problema!
O efeito esponja!
Pois a esponja vai absorvendo água ou qualquer líquido com sua sujeira e impureza, até chegar ao seu extremo de sua capacidade e no primeiro aperto espalhar seu excesso.
Este é um fenômeno muito comum em nosso universo evangélico onde as águas sujas e infectas das doutrinas exóticas e esdrúxulas encontram campo fértil e ardorosos defensores.
Sincretismos pagãos, contorcionismos teológicos, atos proféticos, “visões” vindas de fontes turvas e com propósitos duvidosos, movimentos evocativos de forças estranhas, línguas que manifestam distúrbios emocionais, doutrinas contrárias aos ensinos bíblicos sendo aplaudidas, multidões desesperadas em busca do reino deste mundo, mistura perigosa com o pior da política, mundanismo, idolatrias, etc.
E as súcias de crentes seguem empolgados os novos ídolos, ditos evangélicos, sem o menor pudor doutrinário.
Armada de textos descontextualizados (Não julgais – Mt 7.1; Quem não tiver pecados – Jo 8.7), os esponjas ameaçam aqueles que detectam os falsos ensinos e apologizam em favor das Sagradas Escrituras, mas não temem abraçar o “novo” e esdrúxulo caminho quilometricamente desviado da rota de Cristo.
Algumas velhas novidades que voltaram a ostentar  imensa popularidade em nosso tempo:
Negação da cruz;
Recusa ao estreito e espinhoso caminho;
Descrença na existência real do inferno;
Negação a soberania de Deus;
Relativismo para com a Bíblia;
Renovação do misticismo exacerbado;
Culto a personalidade;
Feudalismo religioso;
Anti-Bíblia em favor das visões enfatuadas;
Estrelismo estratosférico;
Adoração a Mamom.
Mas, tudo é permitido desde os sorrisos plastificados, os achaques ufanos, os arroubos performáticos e a ostentação cinematográfica das conquistas ou pseudos milagres estiverem sendo caudalosamente derramados nas mídias sem fim, projetando uma imagem do que nunca foi não é e jamais será Caminho de Cristo.
Mas quem se importa?
“Quem creu em nossa pregação”
Bradava o profeta Isaias sob inspiração divina, ante o espetáculo do Servo Sofredor (Is 53.1), contrariando as expectativas de um Messias beligerante e doador de benesses ao bel-prazer do seu povo.
Há alguém que se importa?
Está tudo tão legal!
Somos tantos, e podemos até pressionar governos. Temos até um dia instituído nacionalmente, e podemos angariar recursos públicos para financiar nossos shows.
- Não é ótimo! Crente Esponja!!!!
- É sim Crentik! Rê rê rê rê rê rê rê...
Mas, Aquele que tem na mão direita as sete estrelas, de cuja boca sai uma espada afiada de dois gumes, e o rosto, brilha como o sol em sua força, diz: Conheço as tuas obras (Ap 1.16; Ap 2.2,9, 13, 19; Ap 3.1,8,15).

N’Ele, o Cristo que nos dá o discernimento e não o estado esponjoso.