Pensar amedronta!
Isso mesmo!
Um dos exercícios mais amedrontador que podemos
experimentar em nossa experiência existencial, é a capacidade de pensar. Não
apenas pensar um hábito quase instintivo, incapaz de romper qualquer fronteira
do meu “eu”, de minha micro dimensão de existência, com todas as cargas de
influencias externas e os mecanismo dos seus dogmas. Pensar como um ato
libertário capaz de fazer estremecer a alma e sentir-se livre para questionar
os meus mais profundos paradigmas.
Pensar causa revoluções, primeiramente uma
revolução interior, um redescobrir de si, um reinterpretar, um ressurgir do que
se é, do que se quer, do que se vem a ser.
Nem todos conseguem galgar degraus tão
conflitantes, embora todos tenham em si a capacidade de descortinar-se e seguir
novos passos em novos rumos, passos e rumos que sempre estiveram ali, mas
nossos olhos embasados pelo lugar-comum não conseguiam enxergar. É que
estávamos acomodados com uma verdade que nos disseram, com uma verdade que
inventaram, com uma verdade que alienava. No entanto, bem que tudo isso pode
ser sombras, escuras, gélidas, sufocantes. Mas a chama da verdade sempre estará
no além das sombras nos convidando a descobrir o sol e suas cores, e sabores, e
aromas que nas sombras eram apenas uma idéia inexata.
Em nossa história humana existiram alguns homens que
foram capazes de romper com os limites estabelecidos por uma sociedade
mergulhada na ignorância mitológica e suscetível a manipulações governamentais.
Um desses homens foi Sócrates, que perturbava seus contemporâneos argüindo-os
com perguntas aparentemente patéticas, mas que provocavam uma inquietação existencial
em seus inquiridos, e isso mexeu com sua geração, e ele foi considerado um
perigo, principalmente pelo modo como influenciava a juventude.
Caramba! Era demais!
Além de pensar o cara ainda fazia outros pensarem
também, e isso é um perigo.
Quando Sócrates criou o mito da caverna (quem o
transcreveu literariamente foi Platão), ele deu vida a uma metáfora
transcendente que percorreria os séculos seguintes como um retrato da vida
humana condicionada a uma verdade imposta. É, também, uma analogia quanto a
nossa infância existencial, quando vivemos em nossa pequena ilha desconhecendo
o continente a nossa frente.
Hoje, muitos vivem em suas próprias cavernas,
muitos insistem em permanecer em suas sombras, muitos teimam em suas próprias
“verdades” e chegam a achar confortáveis as correntes paradigmáticas que o
prendem, por que ir de encontro a chama fora da caverna requer esforço e
determinação.
Séculos depois surgiu alguém propondo um desafio: “...e
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Essa verdade não pode
ser a “verdade” de cada um, porque todos nós estamos condicionados a
compreensão da fenomenologia deste mundo-caverna que conhecemos. E, esse alguém
veio do além-caverna, onde a chama imarcescível da verdade resplandece dando
real sentido ao existir humano.
Seguindo o oposto do Mito da Caverna onde um
acorrentado subiu o monte e veio anunciar, Ele era livre, entrou na caverna
para libertar.
É inegável algumas similaridades entre a Boa Nova
de Jesus e a filosofia de Sócrates e Platão.
Seria Cristo Pós-Socrático, Pós-Platônico?
Não tenho a ousadia de criar novos conceitos
teológicos-filosóficos, sei, apenas, que em Cristo as buscas de Sócrates e
Platão pela verdade se encerram.
Teriam Sócrates e Platão, dito ou predito a
verdade?
Se disseram ou pré-disseram é porque a receberam de
quem a tinha. Não entremos em pânico, cristãos, pois toda verdade vem de Deus e
Ele a concede a quem quer.
Então, saia da caverna...
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