terça-feira, 20 de março de 2012

O Azorrague de Jesus Desmantelando o Comércio da Fé


 
Um dos eventos mais interessante no ministério terreno de Jesus e que se encontra em harmonia com a narrativa dos quatro evangelhos, é sem dúvida o episódio de sua visitação ao templo e conseqüentemente sua explosiva reação ao constatar o que era realizado ali: um formidável, explorador e lucrativo comércio da fé (João 2.13-17). Jesus - descreve a narrativa bíblica, tendo feito um azorrague (chicote feito de cordas torcidas), derrubou as mesas dos cambistas, dos que vendiam pombas, bois e outros acessórios expulsando-os do lugar, coroando esta surpreendente atitude com a expressão repetida do Salmo 69.9 “O zelo pela tua casa me consome”, e tendo como justificativa para tal, o descaminho que as autoridades eclesiásticas haviam dado para o propósito de existir do templo: “A minha casa será chamada casa de oração”(Mateu 21.13) Não façais da casa de meu pai casa de negócio”(João 2.16).

            Ora, esse comércio era necessário por causa da dinâmica ritualista judaica quanto ao sacrifício de animais em favor dos pecados do povo. E, como na páscoa - festa pétrea e obrigatória no seu calendário religioso - subiam para Jerusalém judeus oriundos de todas as partes do Império Romano, e considerando as distâncias, tornava-se quase impossível o transporte de animais em plenas condições para o sacrifício. Então, percebendo isso, os comerciantes da cidade instalando-se nos arredores do templo, ofereceriam esses animais nas condições ideais que o ato religioso requeria, poupando os peregrinos desse dispendioso transporte.
            Até ai tudo bem!
O problema começou com a ganância inerente da raça humana e os olhos ávidos dos sacerdotes que passaram a lucrar com esse comércio, tornando-se sócios dos comerciantes e permitindo que adentrassem nos espaço geográfico do templo e, ainda, cobrando um ágio de fazer arrepiar qualquer especulador da Bolsa de Valores de Nova York.
            O sacrifício pacífico pelo pecado, que na Lei era um meio de graça, foi transformado no comércio da desgraça religiosa. Imagine o desespero dos pais de família tendo que cumprir a norma da fé, e ver as economias de todo um ano de trabalho suado esvair-se naquele ritual. E se algum peregrino trouxesse um animal, por mais correto que estivesse seria rejeitado pelo sacerdote. Tinha que comprar daqueles comerciantes. Ou seja, uma máfia eclesiástica já havia sido estalada em torno da religião, aproveitando da boa fé dos peregrinos.
            O azorrague de Jesus denunciou e desmantelou esse comércio!
            Ah! O azorrague de Jesus abre sulcos na hipocrisia e avidez dos que somam graça e fé com exploração alienante.
            Aqueles vendilhões foram expulsos, no entanto, em nosso tempo, um novo tipo de vendilhão surgiu, e se mostra com força e vontade de abocanhar as finanças dos já carente e simplório cidadão.
            Tenho observado com muita indignação e tristeza o que muitos líderes chamados “homens de Deus” tem feito com a mensagem da graça do Evangelho de Cristo. É cada vez maior a participação desses cidadãos na televisão brasileira, fazendo uma mutilação do texto da Bíblia e contribuindo para o desnível de nossas programações televisivas e, em tabela, promovendo uma verdadeira alienação do povo.
            Alguns chegam ao disparate de afirmar que aquela sua palestra, pregação ou show, vendido a preços módicos (????) irão definitivamente abençoar e trazer uma unção a quem comprar. E que através disso (deles) será inaugurado no Brasil um verdadeiro avivamento, um novo Pentecoste. Outros vendem objetos como toalhas abençoadas, cruzes com terra de Israel e água do rio Jordão, colunas da vitória, correntes, espadas, flores...ufa!
Vejam só! Foi revivido o tenebroso culto as relíquias e, não demora, veremos esses “homens de Deus” cobrar até por uma oração.
            O cristianismo se tornou um excelente negócio onde verdadeiros impérios foram montados, e as “igrejas” têm-se multiplicado pelo país com a mensagem de uma cura fácil, de uma prosperidade meramente material, de um deus (minúsculo mesmo), circunstancialmente financeiro, pelo qual, os meios justificam os fins e, a mensagem do apertado, longo e espinhoso caminho da cruz, têm se tornado um colorido e largo atalho de flores.
            Percebo que a vida e obra de ilustres personagens da história da igreja cristã não servem de alento e inspiração para boa parte dos cristãos de hoje, alienados com as perspectiva das bênçãos infindas e fáceis, onde é o nosso bolso que indica o grau de nossa fé e compromisso. Um são Francisco de Assis, nem sequer seria ouvido hoje. Um são João Batista, então, talvez sujasse as igrejas e escandalizasse os irmãos com os seus modos e comidas exóticas. Um Paulo de Tarso seria, talvez, rejeitado pelos concílios. E Jesus? Ah! Jesus, quem sabe, fosse crucificado novamente, pois, a sua mensagem de negação pessoal, aquela história de tomar cada um a sua cruz para segui-lo, não encontraria eco em nosso tempo onde reina uma teologia da sombra e água fresca. Onde muitos querem renunciar a sua cruz largando-a nos ombros machucados de Cristo.
            O abominável comércio da fé quer se apropriar do mais sagrado na mensagem de Cristo Jesus, a graça de Deus.
            Se e graça é graça!
Favor imerecido!
Bem que se tem sem merecer!
Se eu precisar pagar, nem que seja uma promessa de areia da praia na beira do mar, a graça deixa de ser graça e passa a ser mérito, e o Deus do amor e da graça transforma-se em um deus da barganha e do sádico lucro sacrificial feito pelo homem tentando alcançar a salvação, que Ele, o Senhor, oferece graciosamente em Cristo Jesus.
            Ah! O azorrague de Jesus abriria sulcos nessa auto-gerência da graça, nessa auto-afirmação dogmática, nessa auto-suficiência intelectual da fé, nessa mania de criar um deus a nossa medida de acordo com os nossos vis propósitos, nessa mania de mérito, nessa mania de ser como clientes, com direitos adquiridos para serem exercidos nessa religiosidade paradigmática, nessa mania de querer ser nós o nosso próprio deus. Esse azorrague quebraria a crosta hipócrita dessas concepções messiânicas e nos conduziria a um exercício de humildade, rendição, submissão e gratidão a Deus, que em Cristo nos salva e no Espírito Santo confirma que É.
            Então, as nações reconheceriam que a Igreja de Cristo, não pertence aos fulanos do mundo, não se comercializa, não negocia os seus valores, mas é um Templo – cada componente desta Igreja, e quando reunidos – de adoração, serviço e fé que abençoa todas as famílias da terra.

            Em Cristo, que nos chamou: Igreja!

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