Ora, esse comércio era necessário
por causa da dinâmica ritualista judaica quanto ao sacrifício de animais em
favor dos pecados do povo. E, como na páscoa - festa pétrea e obrigatória no
seu calendário religioso - subiam para Jerusalém judeus oriundos de todas as
partes do Império Romano, e considerando as distâncias, tornava-se quase impossível
o transporte de animais em plenas condições para o sacrifício. Então,
percebendo isso, os comerciantes da cidade instalando-se nos arredores do
templo, ofereceriam esses animais nas condições ideais que o ato religioso requeria,
poupando os peregrinos desse dispendioso transporte.
Até ai tudo bem!
O problema
começou com a ganância inerente da raça humana e os olhos ávidos dos sacerdotes
que passaram a lucrar com esse comércio, tornando-se sócios dos comerciantes e
permitindo que adentrassem nos espaço geográfico do templo e, ainda, cobrando
um ágio de fazer arrepiar qualquer especulador da Bolsa de Valores de Nova
York.
O sacrifício pacífico pelo pecado,
que na Lei era um meio de graça, foi transformado no comércio da desgraça
religiosa. Imagine o desespero dos pais de família tendo que cumprir a norma da
fé, e ver as economias de todo um ano de trabalho suado esvair-se naquele
ritual. E se algum peregrino trouxesse um animal, por mais correto que
estivesse seria rejeitado pelo sacerdote. Tinha que comprar daqueles
comerciantes. Ou seja, uma máfia eclesiástica já havia sido estalada em torno
da religião, aproveitando da boa fé dos peregrinos.
O azorrague de Jesus denunciou e
desmantelou esse comércio!
Ah! O azorrague de Jesus abre sulcos
na hipocrisia e avidez dos que somam graça e fé com exploração alienante.
Aqueles vendilhões foram expulsos,
no entanto, em nosso tempo, um novo tipo de vendilhão surgiu, e se mostra com
força e vontade de abocanhar as finanças dos já carente e simplório cidadão.
Tenho observado com muita indignação
e tristeza o que muitos líderes chamados “homens de Deus” tem feito com a
mensagem da graça do Evangelho de Cristo. É cada vez maior a participação
desses cidadãos na televisão brasileira, fazendo uma mutilação do texto da
Bíblia e contribuindo para o desnível de nossas programações televisivas e, em
tabela, promovendo uma verdadeira alienação do povo.
Alguns chegam ao disparate de
afirmar que aquela sua palestra, pregação ou show, vendido a preços módicos (????)
irão definitivamente abençoar e trazer uma unção a quem comprar. E que através
disso (deles) será inaugurado no Brasil um verdadeiro avivamento, um novo
Pentecoste. Outros vendem objetos como toalhas abençoadas, cruzes com terra de
Israel e água do rio Jordão, colunas da vitória, correntes, espadas,
flores...ufa!
Vejam só! Foi
revivido o tenebroso culto as relíquias e, não demora, veremos esses “homens de
Deus” cobrar até por uma oração.
O cristianismo se tornou um
excelente negócio onde verdadeiros impérios foram montados, e as “igrejas”
têm-se multiplicado pelo país com a mensagem de uma cura fácil, de uma
prosperidade meramente material, de um deus (minúsculo mesmo),
circunstancialmente financeiro, pelo qual, os meios justificam os fins e, a
mensagem do apertado, longo e espinhoso caminho da cruz, têm se tornado um
colorido e largo atalho de flores.
Percebo que a vida e obra de
ilustres personagens da história da igreja cristã não servem de alento e inspiração
para boa parte dos cristãos de hoje, alienados com as perspectiva das bênçãos
infindas e fáceis, onde é o nosso bolso que indica o grau de nossa fé e
compromisso. Um são Francisco de Assis, nem sequer seria ouvido hoje. Um são
João Batista, então, talvez sujasse as igrejas e escandalizasse os irmãos com
os seus modos e comidas exóticas. Um Paulo de Tarso seria, talvez, rejeitado
pelos concílios. E Jesus? Ah! Jesus, quem sabe, fosse crucificado novamente,
pois, a sua mensagem de negação pessoal, aquela história de tomar cada um a sua
cruz para segui-lo, não encontraria eco em nosso tempo onde reina uma teologia
da sombra e água fresca. Onde muitos querem renunciar a sua cruz largando-a nos
ombros machucados de Cristo.
O abominável comércio da fé quer se
apropriar do mais sagrado na mensagem de Cristo Jesus, a graça de Deus.
Se e graça é graça!
Favor
imerecido!
Bem que se tem
sem merecer!
Se eu precisar
pagar, nem que seja uma promessa de areia da praia na beira do mar, a graça
deixa de ser graça e passa a ser mérito, e o Deus do amor e da graça
transforma-se em um deus da barganha e do sádico lucro sacrificial feito pelo
homem tentando alcançar a salvação, que Ele, o Senhor, oferece graciosamente em
Cristo Jesus.
Ah! O azorrague de Jesus abriria sulcos
nessa auto-gerência da graça, nessa auto-afirmação dogmática, nessa
auto-suficiência intelectual da fé, nessa mania de criar um deus a nossa medida
de acordo com os nossos vis propósitos, nessa mania de mérito, nessa mania de ser
como clientes, com direitos adquiridos para serem exercidos nessa religiosidade
paradigmática, nessa mania de querer ser nós o nosso próprio deus. Esse
azorrague quebraria a crosta hipócrita dessas concepções messiânicas e nos
conduziria a um exercício de humildade, rendição, submissão e gratidão a Deus,
que em Cristo nos salva e no Espírito Santo confirma que É.
Então, as nações reconheceriam que a
Igreja de Cristo, não pertence aos fulanos do mundo, não se comercializa, não
negocia os seus valores, mas é um Templo – cada componente desta Igreja, e
quando reunidos – de adoração, serviço e fé que abençoa todas as famílias da
terra.
Em Cristo, que nos chamou: Igreja!
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