- Dê um brado de vitória, irmão!
E em coro todos respondem:
- Oh! Glóooooooooooooooria!
Quando um exército vencia uma batalha nos
campos de guerra da era clássica, a soldadesca costumava reunir-se em volta do comandante
e a plenos pulmões bradar (gritar) uma palavra de ordem que simbolizaria a sua
vitória.
Esta cena pode ser vista em quase todo
ramo da fé cristã hoje em dia. O que me entristece não é a fenomenologia do
grito como manifestação de poder, ou evidência de uma fé operosa. Isso faz
parte da alma mística do nosso sangue latino. O que me entristece é a mania de
“vitória visível e imediata” que inundou nossa teologia moderna e seus
conceitos nada ortodoxos e muito menos bíblicos.
Não queremos aceitar que um cristão
genuíno venha experimentar ondas de fracassos e pífios resultados, isto é, quando
se olha através do prisma natural-humano. Temos nos concentrados nas conquistas
e usado o sucesso, como medida da fé. Esse perigoso conceito religioso-cristão-contemporâneo
pode provocar afundamentos angustiantes e crises depressivas para a grande
multidão que lotam as Igrejas na expectativa que uma loteria divina irá lhes
contemplar o grande prêmio. O que na maioria das vezes não acontece, provocando
uma profunda sensação de que Deus não atenta para o desespero das pessoas.
Estamos obcecados pelas conquistas,
inebriados com as perspectivas mirabolantes das “vitórias” e que vem
acompanhada de “testemunhos” impressionante. Estamos hipnotizados com a idéia
fixa de uma confissão positiva que vai, em fim, nos catapultar para a glória e
o reconhecimento ainda neste mundo, e que não ultrapassa este mundo. Estamos
tão ocupados com os nossos especulativos triunfos que não nos apercebemos de um
detalhe perturbador da narrativa bíblica: o fracasso!
O fracasso está presente em todas as
etapas do texto bíblico contrariando e desnorteando a nossa lógica do triunfo e
do sucesso.
E graças a Deus pelos fracassos!
Sim.
Graças a Deus por ele, porque é nele, no
fracasso, que as lições foram realmente proveitosas e marcantes. O nosso
Criador usou aquilo que para o mundo é uma vergonha, como matéria prima para
fazer concretar as vitórias reais e que permanecem eternamente.
Psiu!
É! Você que está lendo este artigo.
Levante a cabeça e olhe o horizonte da
tua existência não com o olhar do derrotismo humano, mas sob a ótica de Deus,
através da sua Palavra compreenderás que tuas quedas e derrotas não foram para
te destruir, mas, para te ensinar o que de fato significa vencer.
Foi no meio de um turbilhão de desgraças,
dor e perdas irreparáveis que Jó teve a exata compreensão de quem era Deus: “agora, os meus olhos te vêem” (Jó 42.5).
Abraão teve de largar sua parentela, seu
porto seguro financeiro-moral e se lançar numa peregrinação sem fim, onde a
tenda estava sempre pronta a ser desfeita e a honra vencida pelo medo. Seu
coração em sobressalto pelos severos testes de fidelidade ao Senhor, porém,
firmado na esperança das promessas reais e verdadeiras seriam cumpridas, porque
sabia quem lhe havia prometido. E foi exatamente por isso cognominado “pai dos que crêem” (Gálatas 3.9).
Foi no desmascarar do seu fracasso moral
e ético que o rei Davi pode verdadeiramente ter uma experiência de conversão, e
expressá-la numa composição profundamente poética de quebrantamento e busca ao
Senhor:
“Pequei
contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos... Cria
em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim, um espírito inquebrantável” (Salmos 51.4,10).
E não só estes listados acima, mas tantos
outros que tiveram que sair de suas confortáveis posições, ora financeira,
social ou mesmo teológica-filosófica para irem ao deserto vivenciar o fracasso
de Deus que os tornariam, de fato, vencedores. (Hebreus 11.30-38)
Por fim, a cruz do calvário.
Quem em sã consciência veria o sacrifício
da cruz como uma retumbante vitória? Os judeus a chamaram de escândalo, os
gregos de loucura, mas para os cristãos: poder de Deus para salvar todo aquele
que crê. (I Coríntios 1.23; Romanos 1.16)
Na concepção imediatista do homem, um
espantoso fracasso, mas no plano redentivo de Deus um inquestionável triunfo.
Portanto, vivamos como cristãos
conscientes de que Deus nos dará vitórias mesmo que elas venham disfarçadas em
frustrantes fracassos.
N’Ele, que na cruz venceu e revela-se até
mesmo em nossos fracassos.
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