“Sabemos que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles
que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”
(Romanos 8.28)
Tento fazer teologia na dificuldade
de minha rotina.
Não é muito fácil, tendo em vista
que o teologizar cristão é a profunda unidade entre o crer e o pensar, sem
distinções dimensionais como o platonismo e o neo-platonismo tanto alardeavam
em suas exposições. Além do mais, este “crer e pensar” ou “pensar e crer”
precisa ser despejado como prática de vida e na vida, e não apenas ser uma
disposição filosófica inerte, com seus eternos pressupostos e suas indagações
constantes.
Há de sempre requerer tempo,
disposição, dedicação e disciplina no eterno aprender da Palavra de Deus para
um viver abundante.
Às vezes o Caminho do Senhor em
nosso caminhar de existência nos revela necessidades de reconstruções,
revalorizações, redescobertas e descobertas de não haviam encontrado a guarita
em nosso ser cristão.
Então, em meio as minhas mais
atordoantes crises de fé, em meus questionamentos espirituais. Enquanto buscava
respostas para minhas buscas infantis veio o atropelamento.
Schhhhhhhhhhhh..trás!
Tudo tão rápido!
Um instante!
Alguns segundos.
E lá estava minha esposa aos gritos.
Tive apenas escoriações, mas ela...
Hospital. Diagnóstico negativo. Cirurgia.
Longa recuperação.
Em casa, tive que me afastar do
trabalho para cuidar dela, dos meus dois filhos – um com quase dois anos – e do
lar.
Precisava manter minha disciplina de
leitura, meditação e exercitar o escrever, o pensar para não perder a prática. O
problema foi que agora, já não havia tempo para meus questionamentos, o menino
chorava: hora do mingau! A filha precisava de atenção e cuidado, além de não
puder desgrudar nem um pouco de minha esposa, devido o trauma pós-acidente e
pós-operatório lhe causava insônia e desânimo, e também havia o problema da
difícil recuperação da capacidade de andar.
E assim, fui transformando toda e
qualquer horinha em momento para exercitar a leitura e a meditação. Oração era
todo tempo, mas, muitas vezes trancado no banheiro, derramar-me ante o
Senhor, tendo o cuidado para não deixar que vissem minhas lágrimas e isso de alguma forma ser
negativo em tão delicado momento.
E então, entre fraldas, mingaus, conselhos – para
a filha mais velha - e longas seções de fisioterapia pude perceber o quanto de tempo
perdi no redemoinho das mais tolas questões.
Perdi tempo questionando Deus,
quando deveria amá-lo de todo o meu coração, força e mente.
Perdi tempo questionando o evangelho,
quando deveria estar fazendo discípulos.
Perdi tempo discutindo o sexo dos
anjos, quando deveria estar proclamando a Boa Nova.
Perdi tempo me rotulando e alindo-me
em guerras do passado, quando deveria amar o próximo e suportar os débeis na
fé.
Perdi tempo construindo um
“evangelho” que eu entendesse, enquanto deveria absorver a Graça e o Amor
infinito de Deus.
O Salmista afirmou que lhe foi bom
passar por aflição, porque lhe trouxe ensinamentos (Salmos 119.71).
Agora vejo como Jó, e me humilho no pó que sou,
sabendo que o Senhor em seu Ser não pode ser adequado em nossos
pensamentozinhos, Paulo já nos diz em Romanos 11.33-36, e em outro lugar a
Palavra afirma: “Eu é que sei que
pensamentos tenho a teu respeito” (Jeremias 29.11).
Aprendi com a escola de Deus: a vida
e as tribulações, que forjaram minha confiança n’Ele. Aprendi que a graça e a misericórdia
do Senhor, não são apenas belas palavras bíblicas, mas uma realidade que ajudam
no amadurecer da fé, amor e esperança.
Em tempo:
Faço um excelente mingau, quebrei
qualquer barreira de relacionamento com a minha filha, nos aproximamos e nos
auxiliamos, cerquei de carinho e cuidados a minha amada, descobrindo um no
outro uma força inimaginável.
Deus atuou em seu corpo, sua
recuperação foi considerada um milagre pelos médicos que a assistiram. E Deus
sarou seu coração, chorei quando em oração, junto com Cláudio, meu pastor, ela
perdoou o motorista.
Faço teologia profundamente
arraigada na fé inegociável no Deus que nos conduz em triunfo.
Lembrei até da grande escritora Clarice
Lispecto, que em certo texto, afirmava que construía sua literatura em meio as
rotinas diárias de uma dona de casa.
Em Cristo, que nos faz compreender
depois.
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