O dia
há muito terminara.
Livros,
capítulos, versículos, comentários, artigos espalhados sobre a mesa disputavam
minha atenção com o notebook. Já era tarde, mas precisava terminar o estudo
para a lição da aula no domingo.
Os olhos
pesaram, o corpo pesou. Era o limite.
Verifiquei
as portas e janelas.
Fechadas!
Verifiquei
o quarto das crianças.
Todos dormindo.
A esposa
já muito ressonava.
Agora
era a minha vez...
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Certo
dia houve um feedback divino...
O grupo
reunido inquietava-se com o Mestre, Ele parecia distante e despreocupado,
embora houvesse certa algazarra dos que se confraternizavam em torno d’Ele.
Então
fitando-os perguntou de pronto:
- Que
diz o povo que sou?
O
silêncio foi geral!
Até que
certo burburinho começou a ser ouvido no meio daquela pequena multidão, e
corajosamente um se adiantou e disse:
- Uns
dizem que divides a história, outros que és um iluminado, há quem diga que
fundastes uma religião e, coitados, tem aqueles que dizem que não existes.
Comentários
baixinhos foram ouvidos, assim como impropérios, indignações e palavras de ira,
e teve até quem amaldiçoou tais homens descritos.
-
Hereges! – alguém bradou.
-
Condenados! – seguiu outro, e os demais acompanharam:
-
Filhos do mal!
-
Infames!
- São
uns trouxas!
-
Judas!
- Quero
dar na cara deles!
Mas o
Mestre nada disse.
Manteve-se
em silêncio por um tempo...
Então
decidiu quebrá-lo, e novamente pergunta:
- Mas,
e vós? Que dizeis que sou?
Silêncio...
Todos
se entreolhavam.
Em seus
olhos acusações, desprezos, preconceitos, indiferença...
Então,
alguém com tiara na cabeça e cajado de ouro na mão adianta-se e responde:
- Não
sei estes aí, mas nós sabemos quem és e assim anunciamos.
- E o que
dizes que eu sou?
- Ora,
és o Cristo de Deus, como Pedro declarou, nós assim declaramos e fomos
construídos na rocha que nos destes e nos exemplos de tua mãe.
- Minha
mãe? Nunca lestes que minha mãe, irmão e irmã são todos aqueles que fizerem a
minha vontade?!? Quem te mandou construir em Pedro? Logo não és minha Igreja e
sim de Pedro, a ele buscais e vede se te respondes.
Risinhos
abafados foram contidos pelo olhar penetrante do Mestre.
- E
vós? Que dizeis?
A
confusão foi formada, a balbúrdia tomou conta do grande grupo, pois, mesmo
sabendo a resposta de maneira simplista, escapava-lhes a essência, ou o
confessar vinha tão somente de enganosos lábios.
- És o
Salvador!
-
Redentor! – aludiu outro.
-
Aquele que me fez prosperar – disse um com uma Bíblia de ouro nas mãos.
- És o
Senhor!
- És o
Filho de Deus!
Mas,
Ele sabia que eram respostas aprendidas e repetidas sem a menor dimensão
interior de ninguém.
Ele,
então, com os olhos flamejantes e com a voz de trovão:
- VÓS verdadeiramente
quem dizeis que sou???
Espanto.
Temor e tremor.
Os
grupos se dividiram e a confusão foi maior ainda.
Uns
recitaram o Credo, o Pai Nosso, Ave Maria.
Outros
tentaram faze uma exegese.
Havia quem
quisesse decidir numa assembléia.
Fizeram
petição ao Presbitério.
Teve quem
quis escrever um livro para os seus fiéis comprarem.
Alguns organizavam
a resposta: 1º ponto isso; 2º ponto aquilo; 3º ponto...
"Apóstolos" realizaram "atos proféticos".
Havia muito
barulho, porque um enorme ajuntamento respondia somente em sons ininteligíveis:
cantalabaxouriá, alalababababa, prantalourixiba, etc.
-
Basta!
Bradou o
Mestre com voz de trovão e fez-se grande silêncio.
- Sou a
Rocha! O Cristo! Aquele que caminha por entre a Igreja! Aquele que conhece as
obras de cada um, pois não examino como o homem examina, porque conheço o
interior de todos vocês.
Levantou
os olhos aos céus, suspirou. Fitou novamente a multidão atônita e trovejou.
- O
tempo está próximo! Arrependei-vos e crede no Evangelho de Deus. Adorai ao Senhor
em espírito e em verdade, pois eis que certamente venho sem demora.
Foi um
santo rebuliço.
Quem ostentava
a tiara na cabeça e o cajado de ouro na mão, lançou-os longe, prometendo
transformar o Vaticano em abrigo para o sem lar.
Trocaram
os paletós de fino livro e as gravatas de última moda em vestes de santa
humildade.
Imagens
e ídolos foram destruídos e seus entulhos reciclados para um melhor proveito.
Suntuosas
catedrais, construídas com o sangue, suor e labuta dos fiéis e dos discursos performáticos
dos emplumados líderes vieram a baixo ou deram lugar a construções mais uteis.
Doutores
em divindades voltaram ao jardim de infância da fé.
Os milionários
da fé abriram seus cofres e construíram hospitais e escolas.
O discurso
do ódio virou anuncio da salvação.
O criticismo
pediu perdão e perdoou, tornando-se uma benção.
A indústria
financeira em nome de Deus desligou seus mecanismos manipulatórios e cessou
seus pregões.
O mundo
gospel rasgou não suas vestes, mas seus interiores e em lágrimas verdadeiras
louvou o Senhor em vez de seus próprios egos, adorou a Deus e não mais o homem.
Todas as
flâmulas foram derribadas e uma só bandeira ergueu-se no mundo: A IGREJA DO
SENHOR JESUS.
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Pam...pam....pam...pam...pam...pam...pam...pam...
05:30
da manhã avisava estressadamente o despertador.
Ainda sonolento
olhei pela janela do prédio, mas as catedrais ainda estavam lá.
Fora um
sonho!
Havia estudado
até tarde a lição da EBD no livro de Apocalipse.
Mas,
ainda há esperança.
Maranata!
Vem Senhor
Jesus!
N’Ele,
que certamente vem.