sábado, 21 de julho de 2012

A Teologia Das Porções ou O Evangelho Algemado





“Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”
(Mateus 22.29)

Outro dia ouvi uma palestra onde um renomado teólogo brasileiro aconselhou seus ouvintes a não lerem a Bíblia, pois ela enlouquece ou pode levar a loucura os seus leitores. E não era uma ironia. Partia das experiências de vida desde sua tenra idade e da sua própria mãe que foram impregnadas em sua existência, e associada a seu caminhar intelectual lhe fez chegar a tal equação: que a leitura constante e ininterrupta da Palavra pode comprometer o equilíbrio mental das pessoas.
Estranho e constrangedor vindo de alguém que deveria nos estimular a leitura das Sagradas Letras como exercício libertário e uma experiência com o poder de Deus na Palavra. Estranho e constrangedor perceber que entre nós, ditos cristãos, têm-se desenvolvido uma religiosidade desamparada do único elemento que fundamenta toda nossa ortodoxia e disciplina vivencial, a Bíblia. Estranho e constrangedor o quanto é incômodo nos dias de hoje, nos disciplinarmos no exercício da leitura diária das Escrituras. Inventamos as desculpas que nos cabem, mas, não cabe no que verbalizamos ser: cristãos!
Observamos, então, existir uma blibliofobia em pleno crescimento entre nós, e que a reboque trás graves conseqüências para Igreja.
Certa vez ouvi de um chefe de família que lia a Bíblia apenas nos encontros de casal, pois, era quando tinham tempo.
Outro, disse que não suportava a leitura por conta das narrativas do tipo genealogias ou Números.
Houve quem alegou que sua indisponibilidade era o fato de que o Antigo Testamento respingava sangue.
Teve ainda, quem confessou o medo do Apocalipse e por isso não lia.
Esses foram alguns casos que testemunhei há pouco tempo. O grande lamento e espanto é que essa negligência gera uma ignorância crônica pelas questões mais básicas da Palavra e que formam a base de nossa fé cristã. Há uma mania de crer no que é proposto pelos pregadores literalmente, sem o menor esforço de buscar a chancelaria do que foi posto na Palavra. Outra mania é optar tão somente pelo simplismo textual como se fosse resposta para tudo o não ter resposta. O que não é verdade, pois, deste modo criamos uma religião não pensante, que não tem o que responder ao mundo de agora, a não ser o clássico: “é coisa do diabo, arreda!”.
Para completar temos a cultura das porções, dos versículos isolados e usados como autorizadores de toda e qualquer bizarrice e cretinice nos campos pelo mundo.     
Então, temos a geração das porções.
É a Bíblia mutilada de seu contexto e esvaziada em seu real significado. Aviltada de sua honra como Palavra de Deus, usada e abusada como palavra de homens. Rotulada pelas empresas “ministério” que nos oferece perigosos atalhos para nos fazer enxergar a verdade que eles querem construir. Furtada de seu propósito e instrumentalizada como patuá ou ferramenta de fazer fortunas. Torturada para diga o que não diz, mas sim, a “verdade” do seu torturador. Silenciada, porque não mais expõe o plano de Deus, mas, serve como revelação apenas para o personalismo de cada um, nas porções preferidas, que se contradizem devido o mau uso e não tem significado global apenas o egoísmo do “eu”.
Um dos resultados dessa cultura é o algemar do Evangelho.
Então:
“Deus é amor” (João 4.8) não é mais uma expressão que traz a significação do amor de Deus em conceder seu Filho Unigênito para nos resgatar e purificar do pecado, e que esse entendimento nos deve conduzir a um viver comunitário ditado nesse parâmetro de amor. A teologia das porções transformou num enunciado que paralisa qualquer ação divina de condenação de pecado e conduta humana que fere os mais elementares princípios de sua Palavra. Outro problema desse tipo de teologia é que mundo o absorve rapidamente e assim se nutre da inverdade e tenta inviabilizar e desclassificar a Igreja de Cristo e sua conduta.
“Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7.1) não é mais um princípio norteador para a comunidade e para o “eu” pessoal não emita sentenças condenatórias a cerca de pessoas baseadas em nossa lógica ou nosso parâmetro hipócrita. Ou seja, condenar os outros por aquilo que nós também, de uma forma ou de outra fazemos (às vezes em secreto), além, disso o texto denuncia a nossa incapacidade de exercer misericórdia. A teologia das porções manieta os cristãos com a aplicação simplista do versículo tornando como coisa imprópria a capacidade de discernir as ações, pensamentos e idéias, furtando do ensino de Cristo esse elemento, exposto em Mateus 7.15-16; Lucas 6.43-45.
“E tudo que pedires em meu Nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (João 14.13) não é mais uma expressão dentro do ensino de oração, pela qual quem ora é identificado com Jesus e os seus propósitos. A teologia das porções transformou esse versículo e seus paralelos numa ferramenta de coação contra Deus, no qual Ele, o Senhor é obrigado a atender os pedidos dos “adoradores”  pelo simples fato de o fazerem usando a codificação etimológica do nome “Jesus”. Como ouvi certa vez de um pregador, que Deus era obrigado a assim proceder por causa dos que orassem dessa forma.
Esses são apenas alguns exemplos para não ficar deveras extenso o artigo.
Contra tudo isso, exponho algumas exortações:
Leiamos a Bíblia sempre, e todo dia. Procurar ler ela toda, sem a preocupação se durará um anos ou mais, não fique paranóico com os planos de leituras, use-os como orientação e ajuda para tuas leituras, mas, se não conseguir segui-lo, siga lendo as Escrituras sempre, e todo o dia.
Leia a Bíblia como uma experiência de encontro com o Deus da Palavra. Evite os óculos denominacionais, tente vencer a tentação das Bíblias rotuladas (aquelas que são da “vitória financeira”, “de fulano de tal” “disso ou daquilo”), leia sem a impregnação teológica que procura nos influenciar, mas, como um adorador em busca do Deus que motiva sua adoração.
Leia a Bíblia com temor, reverência e amor, buscando nela os elementos que solidificam a nossa caminhada cristã, mesmo que nosso caminho seja pelo mar revolto.
Leia a Bíblia não como um livro mágico, mas, como a Palavra Revelação Especial de Deus, inspirada pelo Espírito de Deus e pela qual nos tornamos sábios para a salvação.
Leia a Bíblia com sua família.
Leia a Bíblia por que ama a Deus, e quem ama Deus ama a sua Palavra e não sabemos se amamos a Deus se lemos a sua Palavra.
A leitura da Bíblia não enlouquece ninguém. Essa é uma das mais absurdas mentiras que já ouvi. Nunca vi ninguém dizer que alguém ficou maluco por ter lido ou visto muita revista pornográfica, ou jornais, ou livros de piadas indecentes. Sim! A Bíblia tornará quem a lê louco para os sistemas do mundo, porém, sábios para Deus.
Ah! Antes que termine, leia a Bíblia, mas só marque um versículo em destaque quando considerar todo o contexto do parágrafo, para que não ocorre de cair na tentação da teologia das porções e o Evangelho esteja algemado pelos versículos que você gosta.

N’Ele, que é a Palavra. 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A Graça In(Comum) e Algumas Questões


A rotulada Graça Comum não pode ser usada como um mecanismo regulador de aceitação para adoração na Igreja (falo Igreja e não denominação) de qualquer expressão artística, produzida fora do que nos convém conceituar como “cristã”. Também, os que são alvos da Incomum Graça ou Graça Especial, não podem se valer da misericórdia de Deus como um recurso para a demonização de tudo que se faz debaixo do sol, e que não se enquadra na definição “evangélica”.
É interessante que a discussão em torno da Graça Comum virou um entrincheiramento para posições antagônicas e que pouca reflexão, de fato, tem sido produzida, apenas o endurecimento das “teorias”.
Teorias? Sim!
Tendo em vista que levamos as discussões e os posicionamentos apenas para o fator das artes, e qualquer expositor da Palavra pode se ver “em maus lençóis” caso lhe convenha a citação de algum trecho literário, poético, musical, etc, que não seja de alguém que carrega a alcunha de evangélico.  A questão fica apenas na arte, ninguém será questionado se utilizar dados científicos, tecnológicos, econômicos ou de qualquer outra natureza em seus sermões, até parece que a questão controversa da Graça Comum se dá em torno da malfadada capacidade humana de expressar sentimentos, pensamentos, emoções em forma artística.
Então...
Não se deveriam construir templos. Pois se usam métodos, cálculos e invenções que foram criados por “mundanos” que não visavam a glória de Deus, mas, apenas ganhar dinheiro. Não se deveriam usar o sistema bancário, e nem vou completar o comentário. Não se deveriam fazer uso dos automóveis, dos sistemas de som, dos métodos administrativos largamente usados nas igrejas. Não se deveria usar a bandeira Brasileira, pois esta carrega em si uma ostentação do ideal positivista de Augusto Comte: “Ordem e Progresso”. Não se poderiam cantar o Hino Nacional Brasileiro, nem a popularíssima “Parabéns pra você”. Ou o que é mais grave, não se poderia usar nem mesmo a seqüência das notas musicais, as quais são atribuídas ao monge católico Guido d’Arezzo, quando a Reforma Protestante ainda dormia o sono dos justos.
Mas, acontece algo interessante: nesses casos há um subterfúgio balizador: “tal objeto, agora, foi consagrado para ser usado para a glória do Senhor”.
Quem consagra?
Deus?
Poupem os meus cabelos brancos.
Todo talento, todo dom vem do Pai das Luzes.
Cansei de ver os ditos pregadores expositivos citarem mais os teólogos e suas posições, que na grande maioria dos casos basta-se a sua geração, do que citar os textos bíblicos. E o que vamos fazer para entender a mensagem do Novo Testamento se relegarmos ao limbo todo caldeirão cultural em que ele está inserido?
O que João combate ao escrever a sua narrativa do Evangelho e nas suas Cartas?
O que vamos dizer de Paulo, homem extremamente culto e que faz uso dos ganchos culturais existentes para apresentar o Evangelho de Cristo?
Durante o ministério de Cristo e na instalação da Igreja com o Livro de Atos e as diversas Cartas, não encontramos cerceamento da arte ou cultura em nenhum lugar, existe a premissa de que tudo seja para a glória de Deus.
E para a glória de Deus deve ser usado.
O que é a gloria de Deus?
Que glória possui o homem que dela Deus necessite? Ele é o Senhor da Glória!
Tudo o que fizermos deve ser voltado para o louvor do Nome do Senhor reconhecendo em cada coisa a sua glória. Ora, somente os que são alvo da Graça Especial é que possui tal entendimento, mas isso não indignifica quem reconhece no homem comum o talento artístico que o Senhor concedeu por sua graça. Ele, o artista, não usou esse dom com o devido propósito, mas, se algum pregador, escritor, teólogo usar tal citação, deve faze com tal propósito.
Alguns pontos nos Is:
Não se pode creditar o cristianismo exclusivamente ao simplismo. Ele não é uma revelação específica para os incultos, toda gente foi alvejada pela semeadura da Palavra, os mais simples responderam com uma maior aceitação, mas, cuidado! O Evangelho não é uma apologia a estagnação, a acomodação nem a deseducação de um povo, pois quem tem fé caminha, progride, aprende, não para, segue sempre.
Muitos intelectuais se somaram ao cristianismo e contribuíram para que o próprio Novo Testamento pudesse ser construído literariamente (sabendo que Deus conduziu todo processo). Mas, cuidado! Tornar a mensagem cristã recheada de academismo é um pecado grotesco e que tem sido despejado do púlpito de muitas Igrejas.
Perceber, compreender, admirar a arte em nossa volta, mesmo que não seja “evangélica” é um dever nosso. Paulo asseverou: “Examinais todas as coisas, retendes o que é bom”. O que não se pode e criar uma atmosfera idolátrica em torno dos artistas em que reconhecemos um talento nato e admirável.
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Portanto, com sabedoria, temor, amor e prudência, devemos construir a teologia de nossa geração, usando com cuidado citações, quando convier e dentro do contexto do louvor ao Nome do Senhor, reconhecendo a Sua glória.
Em fim, vivamos como novas criaturas em Cristo, mesmo num mundo pavoroso que jaz no maligno, mas não caminhemos em paranóia como se Deus não permitisse ao homem comum, por sua graça comum, construir coisas belas. Façamos a Palavra habitar em nós ricamente e, assim, sermos capazes de discernir o mundo a nossa volta.
Por que glorificar (servir) a Deus pode ser fazer sapatos e vendê-los a um preço justo, como disse Lutero.  

sábado, 14 de julho de 2012

Eu Creio Só!





Não!
Não se trata de um libelo a solidão.
Nem de uma apologia ao desigrejismo.
Nem tão pouco de um apelo ao isolacionismo.
Até porque já disse o poeta: “É impossível ser feliz sozinho”. E ainda que seja possível, não é bom, pois está escrito: “Não bom que o homem esteja só”.
Trata-se de um princípio norteador de minha caminhada cristã. Da construção do Evangelho de Cristo em mim, e assim sigo, nunca só, mas...
Eu creio só!
Não libero a minha fé a ninguém, não vivo a tiracolo de nenhum grande ou pequeno teólogo midiático, por quem aprendemos alguma coisa e desaprendemos outras. Não dependo da carona de ninguém para crer, creio no Deus que na cruz por mim morreu e ressuscitou e me aguarda na mansão celestial.
Eu creio só!
Ninguém faz minha oração. Sou eu que tenho que entrar em meu quarto secreto, o quarto da bagunça, e ali, o Pai que vê em secreto, recompensa. Minha oração é minha. Ninguém pode orar em meu lugar. Sou eu que oro, embora não sabendo, mas, sabendo que o Pai sabe que eu não sei, e assim, me entende.
Eu creio só!
Tenho que diariamente ter meu encontro com a Palavra Sagrada e dela me alimentar. Sou eu que tenho que me disciplinar e mastigar cada versículo como quem saboreia seu jantar mais precioso. Ninguém lera por mim, ainda que alguém leia para mim, minha leitura ninguém fará.
Eu creio só!
Nenhum Davi ostentará sua funda a derrubar os Golias que me assaltam na vida. Minhas lutas e desafios são meus, minha cruz carrego com galhardia, não delego a ninguém as minhas tribulações, ainda que conforto alguém possa me proporcionar, sou eu que tenho lutar e vencer minhas batalhas.
Eu creio só!
A comunidade sou eu com os outros, mas não me cabe cobrar a perfeição ou decretar condenação, mas ser instrumento de união, de amor, fé e esperança. A Igreja está em mim, e sendo assim, faço-me Igreja quando abarco outro em minha vida e quando sou pelo outro abarcado. Mas, sou eu que tenho que ser Igreja.
Eu creio só!
A proclamação a mim confiada é minha, não delego a ninguém tal função, ainda que na terra em que eu não possa ir outro proclame o que eu proclamo, pois tal missão é dele. Minha missão é minha, não posso confiar a ninguém, mesmo que apenas uma única pessoa evangelize, sou eu que tenho que evangelizar, pois é meu dever.
Eu creio só!
Embora não esteja só.
Cada um deve crer só.
Pois o encontro com o PAI é único, pessoal, intransferível.
E assim, cada um soma-se a outro um e mais outro e se fazem todos.
E todos são um.
Assim como o PAI e o FILHO.
E dessa forma reconhecerão o Cristo em nós.

N’Ele, que não me deixa crer sozinho. 

Cultura Não Faz Mal





A ignorância é uma das razões para serem criados mitos, preconceitos, mal entendidos e tradições ilógicas. Dela os fascistas, ditadores e tiranos souberam tirar proveito e se apropriar do bem maior de cada povo, a liberdade. É por causa dela que a religião tentou sufocar o cristianismo de Cristo e paralisar o desenvolvimento científico e filosófico. É a ignorância que dá margem para a maior parte das mazelas que invadiram e deturpam a mensagem da Igreja.
Não falo de ignorância como a falto do saber acadêmico, por que este saber, também, é um incrível gerador de preconceitos e discriminações, e não é ele quem diz ou mede a nossa sabedoria. Falo de ignorância como razão de ser, fruto de misticismo e crendices aprisionantes e incubadora das mais ardilosas manias e fetiches humanos.
Ignorância que trava a alma e obscurece o entendimento, lançando as pessoas no indiferentismo e promovedora do ódio em escala destrutiva e mortal. A ignorância transforma ritos religiosos - herança de uma tradição, em revelação sacra da vontade divina.
Acreditava que com o desenvolvimento natural de nossa gente e o acesso a universidade um pouco mais democratizado, muitas de nossas esquisitices evangélicas serias vencidas ou relegadas a uma época ou geração.
Ledo engano.
Certas manias foram apenas substituídas por outras de igual sentido. O misticismo e as crendices fazem sucesso em nosso meio, e velhas percepções infundadas continuam vivíssimas e fronteirizando como um cárcere muitos dos que se creditam evangélicos.
É complicado conversar ou manter um debate saudável sobre um tema cultural com os “irmãos”. É preciso ter cuidado ao expor seu pensamento sobre filósofos e filosofia, ou mesmo sobre as conquistas científicas, como por exemplo, o bólson de Higgs. Você pode ser entendido como um herege, sem fé, frio, sorveteriano ou congelacional,e por ai vai.
Entendo as artes como dom de Deus. Elas devem ser usadas para a glória d’Ele, mas parece que há uma castração artística quando da conversão ou quando da educação disciplinar quando se é desde o berço evangélico.
Minha análise parte da década de 80, quando tomei conhecimento do mundo evangélico, e uma das minhas maiores frustrações era a falte de aproveitamento da veia artística e cultural de todo um povo.
Teatro, cinema, música, poesia, artes plásticas, quadrinhos, pinturas, etc. Onde ir o que fazer?
Por que transformar tudo que foi produzido pelo engenho humano (é claro que Deus está no controle e é por sua permissão que o que foi produzido o foi) em obra danosa ou maligna?
Lembro-me de um irmão que sofreu deveras por causa de sua arte, a pintura. De outros que liam livros escondidos para que o Pastor ou os outros irmãos não soubessem. Das irmãs que ao usavam brincos ou batom, nem um adereço qualquer por conta do linchamento social nas igrejas com a confusão nos usos e costumes. E dos irmãos que sofreram perseguição velada por gostar de rock in Roll. Lembro de bateria e guitarra listados como instrumentos impróprios para os cultos. Das mensagens em que o computador era apresentado como o anti-Cristo.
Ora, muitas vezes só em demonstrar seu interesse pela história e seus personagens, o olhar crítico de alguns já importunam nossa exposição.
Por sinal, a pregação expositiva, na qual todos esses elementos (cultura, geração, história, língua, teologia) são levados em questão para uma interpretação e aplicação corretas tem sido a mais negligenciada pelos púlpitos, sempre prontos a entreter o auditório.
Um pouco de cultura não faz mal.
Podemos ser crentes sem ser medíocre, afinal o Evangelho é simples, mas, não é simplório.
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oseias 6.3)
E quanto mais conhecemos d’Ele, menos ignorância temos, mais de cultura apreciamos, menos irascível somos, nenhuma crendice temos, mas, vivemos por fé naqu’Ele qué é o Autor e Consumador da Fé.

N’Ele, que nos liberta.

Prometheus, Mas Não Cumpriu





Esperei com certa ansiedade pelo aguardado filme Prometheus. Tanto por ser apregoado pela mídia cinematográfica como um prólogo de Alien, o 8º Passageiro, como pelo retorno do brilhante diretor Ridley Scott a franquia tão bem sucedida. Scott produziu também, um dos melhores filmes do gênero: Blader Runner, o Caçador de Andróides, em que o cenário futurista, as imagens grandiosas e os espetaculares efeitos somam-se a um roteiro impecável que introduzia no espectador a discussão sobre criação e criador, inteligência artificial e outros elementos da angustia humana.
Ora, o enunciado do filme informava sobre a busca de respostas quanto a origem da vida e o quanto essa busca poderia levar o homem ao seu fim. Um excelente convite para o deleite da arte de ver cinema e viajar em sua trama.
Mas, não foi bem isso que a película nos ofereceu.
Claro, as imagens com um fantástico realismo são incríveis, o som e a fotografia perfeitos, alguns personagens inteligentemente criados e interpretados com maestria (destaque para o andróide David e a pesquisadora Shaw, interpretados por Michael Fassbender e Noomi Rapace). Nos diálogos há uma citação de Nietzsche e um nada sutil escárnio a Darwin e a teoria da Evolução das Espécies.
O filme se propõe a alguns desafios, sejam científicos, filosóficos e até teológicos, não é a toa que em seu título é uma alusão a mitologia grega. Prometheus foi um titã. Astuto, inteligente e defensor da humanidade. Ele roubou o fogo dos deuses e deu aos homens, garantido com isso, a superioridade da raça humana aos demais animais. Prometheus acaba pagando muito caro por isso. Em punição a essa ousadia, Zeus o aprisionou no cume do monte Cáucaso, onde uma águia lhe devoraria o fígado durante o dia, e este, durante a noite restaurava-se, para que no outro dia continuasse a ser devorado, e esse castigo pela eternidade.
No entanto, Prometheus (o filme), tem um ponto fraco que arrasta consigo o conjunto da obra, seu calcanhar de Aquiles é o roteiro.
Faça-se justiça, funciona até certa altura, mas, depois descamba para uma seqüência de inconsistências, falhas e erros que não dá para acreditar se levarmos em conta o objetivo da missão dentro de sua estória.
Algumas incoerências:
A missão seria composta de cientistas e militares, mas eles não se comportam como tais, mais parecem colegiais indo disputar os jogos estudantis.
Os tripulantes são impressionantemente inadequados para tal missão.
Os métodos científicos usados são extremamente amadores.
Os protocolos de segurança para tal missão simplesmente não existem.
Há um excessivo consumo de álcool por um dos pesquisadores responsáveis pelo objetivo da missão.
A trama cai para o melodrama típico dos americanos e o teor científico mistura-se a dramas e frustrações pessoais.
O apego religioso não tem função de questionar por respostas, e sim de uma apologia religiosa infantil, parecendo ser feita para agradar ao cristianismo americano.
O encontro com os “engenheiros” é perturbadoramente constrangedor, onde as grandes questões que propositaram a missão, tem o silêncio e a violência inexplicável como respostas.
Em fim, prometeu muito, mas, cumpriu pouco.
Ficou no ar a evidente brecha para aquelas intermináveis seqüências que em muitos casos embaralham ainda mais a estória. Vamos esperar.
Há, ainda, outros pontos que poderia analisar, mas espero que você assista, se lhe convier, e que tenha seu próprio ponto de vista. Afinal, este é apenas uma resenha, um comentário de um apreciador da sétima arte, e em especial dos filmes de Ficção Científica.
Em tempo:
Encontramos o Criador na viagem rumo ao Cristo em nós.

N’Ele, que nos criou sua imagem.   

sábado, 7 de julho de 2012

O Evangelho Que Aprendi





Ao contrário dos meninos que lotam as salas dos seminários e aquecem as discussões teológicas com antigos temas e infindáveis polêmicas, fui ao seminário beirando os quarenta, já tendo no currículo uma considerável caminhada cristã, marcada por dores, lágrimas e livramentos do Senhor. Não sou contra o envio de jovens aos seminários, é preciso buscar o conhecimento e a preparação melhor possível para o exercício do Sagrado Ministério, todavia é estranho quando a mecanização erudita e acadêmica assola a futura liderança da Igreja.
Não apenas eu, mas, praticamente toda a turma era composta de “velhinhos” no Evangelho, homens e mulheres calejados na vida e que há décadas já tinham um ministério na Igreja, e com isso percebíamos os “garotos” professores muitas vezes aperreados com as teorias teológicas que para nós (e éramos de todos os tipos de denominação) não tinham qualquer valor na realidade eclesiástica que experimentávamos nas igrejas, somente valor histórico.
Fui um bom exercício vivencial.
 Em meio a pentecostais, históricos, reformados, outros sem nem saberem o que eram, de repente, os calvinos, os luteros, os armínios, as “logias” e os “ismos” perderam o sentido ditatorial para nossa existência, percebemos que éramos um grupo de irmãos em busca de conhecer o Deus da Palavra, e a Palavra do Deus que nos tornou irmãos.
Alguns anos já passaram, e quando encontro alguns deles pelo caminho vejo permanecer o mesmo afã de crer no cristianismo de Cristo e saber que essa caminhada é feita da impossível fé, do inexplicável amor e da incompreensível paz.
Por que decidi escrever sobre isso?
Porque o Evangelho agente também aprende sem aprender.
Nem sempre é preciso, nem mesmo é fundamental reconhecer a longa trajetória teológica nesses ditos dois mil anos de cristianismo. Nem sempre um rótulo é pertinente. Denominação e segregação evangélica na maioria dos casos não são saudáveis.
Mas sempre, sempre e sempre é fundamental amar.
Amar a Deus com o completo de nosso ser, e por mais que insistamos em “dizer – ensinar” como, não é possível sem o encontro transcendente e místico de cada um de nós com o Pai de todos nós (os que crêem). E amar ao próximo, como constatação, evidência e meio de visibilização do amor a Deus.
E assim, Refletindo no contexto tumultuado da Igreja Evangélica de hoje posso perceber que o Evangelho que aprendi é feito de elementos que estão além das paredes institucionais, das regras históricas e das divisões eclesiásticas tão presentes em nosso meio. Eu sei, elas são importantes, não isso que estou dizendo. O que estou dizendo é que não é tudo, apenas uma parte da experiência evangélica.
O Evangelho que aprendi foi:
Gritado num alto falante, amarrado num coqueiral e que despertava os nossos domingos e enchia de som o fim da tarde, onde a humilde pregadora em meio a hinos e histórias bíblicas nos convidava a uma vida diferente.
Transmitido sem palavras, mas com a dignidade de alguns homens e algumas mulheres que eram referência na comunidade, muitos sem nenhum título honorífico, até com um português sofrível, mas com uma vida abundante.
 Semeado pelas atitudes de gente que tiveram a ousadia e coragem de abraçar-me, enxugando minhas lágrimas ou chorando junto sem nenhum constrangimento ou exigência, porém, consolando-me com as Sagradas Escrituras.
Solidificado na leitura incessante da Palavra de Deus, com choro e oração, deixando que ela invadisse o meu entendimento e sendo o filtro para pesar todas as coisas. Foi crendo que busquei entender e entendendo cri.
Com pastores e irmãos cujos nomes nunca estarão nos compêndios teológicos, nem nas mídias poderosas, geradoras dos modernos “deuses” evangélicos; mas estão escritos no Livro da Vida, pois exerceram o que Jesus testificou em João 15.13.
Hoje, observo com tristezas os “deuses” evangélicos que não mais necessitam da Bíblia, negam sua veracidade. Já não se satisfazem com Jesus, mas se enamoram de qualquer expressão religiosa. Outros transformaram o estudo bíblico num emaranhado de filosofias e teorias que tornam estranhamente burocrática o acesso do cansado e sobrecarregado ao Evangelho da Vida.
Ei!
Este texto não é um libelo a mediocridade, mas um grito contra a excentricidade e a complexidade que se tornou a fé cristã, contrariando o Mestre que usou uma criança para desconstruir a arrogância humana.
N’Ele, em quem aprendi o Evangelho.  

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Caminho Por Uma Rua Que Passa Em Muitas Igrejas





Uma nova onda invadiu a rua em que moro, que por sinal, já é bastante movimentada, por inúmeros pequenos comércios surgidos nas garagens das residências. São as igrejas! Foram chegando... Chegando... e já são cinco, descontada uma, que seria a sexta, mas que faliu por causa de escândalos internos.
Se contabilizar algumas ruas em volta, teremos ao todo nove ou dez “igrejas”, salvo engano desse pacato observador.
O caráter comercial que inevitavelmente transparece na formação dessas “igrejas” é incômodo e constrangedor. Os cultos coincidem nos horários e então... Salvem-se quem puder!
Falta harmonia, diálogo, estratégia evangelística e muitas, muitas, muitas vezes respeito mínimo aos moradores que não partilham dos mesmos rituais litúrgicos.
É uma pena!
Quando criança no Evangelho acreditava que um Brasil de maioria ou pelo menos com crescimento evangélico, seria mais sensato, justo, tolerante e progressista. Poderíamos dormir descansados por causa da diminuição da criminalidade.
Talvez tenha crido numa utopia típica de Thomas Morus.
Nada melhorou.
Temos empresários sonegadores, músicos em busca do sucesso, pregadores que se locupletam usando a Palavra, patrões que furtam direitos adquiridos dos funcionários, funcionários repletos de mau caráter que causam prejuízos enormes onde trabalham, pessoas com a Bíblia na axila, mas ela não chega ao coração, políticos que fariam um favor em não mais representar os evangélicos.
Pensamentos assim me assaltam enquanto caminho do apê onde moro até o local do meu futuro trabalho (que não é uma igreja). Nesse percurso caminho quase toda a extensão da rua, e perfazendo essa trilha contemplo as igrejas entretecidas em seus ritos, os homens em suas vestes sacerdotais evangélicas, os paletós. As mulheres, já experimentam algumas liberdades, porém, ainda persiste para muitas a cadeia cultural-psicológica quando ao vestir, ao cabelo, aos brincos, etc.
As bobagens que misturam num mortífero coquetel de tristeza e chamaram de “evangelho”.
Drummond, me empreste o moto da “Canção Amiga”:

Caminho por uma rua
Que passa em muitas igrejas.
Se não vêem, Eu vejo
E saúdo velhos amigos.

Caminho por uma rua que passa...
Não cabe nas igrejas...
Estão olhando para si, e a si mesmo se enxergam.
Mas, eu as vejo, e como vejo!
Saudações velhos amigos.

Olha,
O evangélico distribui um segredo
Pois ama e sorri
Do jeito mais natural.

N’Ele, que me vê. 

RECOMEÇAR





“Esquecendo-me das coisas que para trás ficam
 e avançando para as que diante de mim estão
Prossigo para o alvo, para o prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”
(Filipenses 3.13-14)

É gente, passei o mês de junho quase todo ausente da web e sem alimentar o blog, apesar de ter realizado em três ocasiões o programa de rádio e ter ministrado as aulas na EBD da IPG, porém o tempo quase todo destes dias foram focados na grande mudança em minha vida profissional.
Estou em fase de mudança!
Depois de quase 25 anos trabalhando como empregado resolvi ser o meu próprio patrão.
Gente, não é nada fácil!
Duas décadas e meia, sedimentado e disciplinado numa condição para garantir o pão de cada dia, um novo horizonte de possibilidade é aberto por Deus e isso revigora a vida da gente, oxigenando a existência.
Vou virar comerciante, farmacista para ser mais exato, e passei o mês na luta para conseguir as condições idéias das instalações do pequeno, porém, significativo empreendimento e das licenças necessárias.
Vivo mais uma fase de recomeço.
Relembro outras fases na minha história que deixou profundas e indeléveis marcas, como a enchente que praticamente destruiu minha casa; quando eu e minha esposa fomos atropelados deixando sequelas para o resto da vida dela; quando decidi voltar a estudar; quando fui ao seminário; quando do nascimento dos meus filhos, principalmente o Pedro, porque foi salvo por um milagre. Em todos esses momentos a minha companheira foi parte fundamental para vencermos, e a presença do Cristo em nós foi à força capacitadora, pois “sem mim nada podeis fazer” (João 15.5b).
“Recomeçar, pintar de outra cor”
 Canta Flávio Venturini na canção “Recomeçar”.
Devemos estar prontos para as mudanças e os desafios que nos sobrevirão, pois todo recomeço trás as suas dificuldades e obstáculos que testam nossa capacidade de vencer.
Ah! Antes que esqueça, o cristão vence mesmo sem vencer.
N’Ele, que faz tudo cooperar para o bem dos que o amam.