Ao contrário dos meninos que lotam as salas dos
seminários e aquecem as discussões teológicas com antigos temas e infindáveis
polêmicas, fui ao seminário beirando os quarenta, já tendo no currículo uma
considerável caminhada cristã, marcada por dores, lágrimas e livramentos do
Senhor. Não sou contra o envio de jovens aos seminários, é preciso buscar o
conhecimento e a preparação melhor possível para o exercício do Sagrado
Ministério, todavia é estranho quando a mecanização erudita e acadêmica assola
a futura liderança da Igreja.
Não apenas eu, mas, praticamente toda a turma era
composta de “velhinhos” no Evangelho, homens e mulheres calejados na vida e que
há décadas já tinham um ministério na Igreja, e com isso percebíamos os “garotos”
professores muitas vezes aperreados com as teorias teológicas que para nós (e
éramos de todos os tipos de denominação) não tinham qualquer valor na realidade
eclesiástica que experimentávamos nas igrejas, somente valor histórico.
Fui um bom exercício vivencial.
Em meio a
pentecostais, históricos, reformados, outros sem nem saberem o que eram, de
repente, os calvinos, os luteros, os armínios, as “logias” e os “ismos”
perderam o sentido ditatorial para nossa existência, percebemos que éramos um
grupo de irmãos em busca de conhecer o Deus da Palavra, e a Palavra do Deus que
nos tornou irmãos.
Alguns anos já passaram, e quando encontro alguns
deles pelo caminho vejo permanecer o mesmo afã de crer no cristianismo de
Cristo e saber que essa caminhada é feita da impossível fé, do inexplicável
amor e da incompreensível paz.
Por que decidi escrever sobre isso?
Porque o Evangelho agente também aprende sem
aprender.
Nem sempre é preciso, nem mesmo é fundamental
reconhecer a longa trajetória teológica nesses ditos dois mil anos de
cristianismo. Nem sempre um rótulo é pertinente. Denominação e segregação
evangélica na maioria dos casos não são saudáveis.
Mas sempre, sempre e sempre é fundamental amar.
Amar a Deus com o completo de nosso ser, e por
mais que insistamos em “dizer – ensinar” como, não é possível sem o encontro
transcendente e místico de cada um de nós com o Pai de todos nós (os que
crêem). E amar ao próximo, como constatação, evidência e meio de visibilização
do amor a Deus.
E assim, Refletindo no contexto tumultuado da
Igreja Evangélica de hoje posso perceber que o Evangelho que aprendi é feito de
elementos que estão além das paredes institucionais, das regras históricas e
das divisões eclesiásticas tão presentes em nosso meio. Eu sei, elas são
importantes, não isso que estou dizendo. O que estou dizendo é que não é tudo,
apenas uma parte da experiência evangélica.
O Evangelho que aprendi foi:
Gritado num alto falante, amarrado num coqueiral
e que despertava os nossos domingos e enchia de som o fim da tarde, onde a
humilde pregadora em meio a hinos e histórias bíblicas nos convidava a uma vida
diferente.
Transmitido sem palavras, mas com a dignidade de
alguns homens e algumas mulheres que eram referência na comunidade, muitos sem
nenhum título honorífico, até com um português sofrível, mas com uma vida
abundante.
Semeado
pelas atitudes de gente que tiveram a ousadia e coragem de abraçar-me, enxugando
minhas lágrimas ou chorando junto sem nenhum constrangimento ou exigência,
porém, consolando-me com as Sagradas Escrituras.
Solidificado na leitura incessante da Palavra de
Deus, com choro e oração, deixando que ela invadisse o meu entendimento e sendo
o filtro para pesar todas as coisas. Foi crendo que busquei entender e
entendendo cri.
Com pastores e irmãos cujos nomes nunca estarão
nos compêndios teológicos, nem nas mídias poderosas, geradoras dos modernos
“deuses” evangélicos; mas estão escritos no Livro da Vida, pois exerceram o que
Jesus testificou em João 15.13.
Hoje, observo com tristezas os “deuses” evangélicos
que não mais necessitam da Bíblia, negam sua veracidade. Já não se satisfazem
com Jesus, mas se enamoram de qualquer expressão religiosa. Outros
transformaram o estudo bíblico num emaranhado de filosofias e teorias que
tornam estranhamente burocrática o acesso do cansado e sobrecarregado ao
Evangelho da Vida.
Ei!
Este texto não é um libelo a mediocridade, mas um
grito contra a excentricidade e a complexidade que se tornou a fé cristã,
contrariando o Mestre que usou uma criança para desconstruir a arrogância
humana.
N’Ele, em quem aprendi o Evangelho.
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