- Igrejas!!
Igrejas!! Meu reino por uma Igreja!
-
Igrejas!! Igrejas!! Uma Igreja do Reino!
Gritava
o sujeito nas ruas com uma Bíblia mão. Apesar de toda algazarra pouca atenção
atraia. Até que um passante, indiferente, mas querendo sossego, protestou:
- Pra
quê tanta celeuma? As placas estão aí, escolhas uma e te conforma.
Suspiros
profundos, mãos na cabeça:
- Não quero
a igreja da placas, elas já não dizem nada, são nauseantes, repulsivas, muitas
delas exalam a podridão mística das coberturas idolátricas dos fantoches de
Mamon.
Eis que
outro se aproximou, e com nítida irritação retruca:
- Cale-se!
Acaso atentas contra os ungidos? Recolha-se em seu nada ou venha ao sacrifício.
Olhos fitos,
semicerrados, mas de tal modo penetrante que fez seu interlocutor baixar a
vista:
- Não
sabia que eram ungidos, nem parecem! Pois seus modos, seus feitos, suas falas,
seus “evangelhos” de tão idênticos aos senhores e as coisas da terra, embaçaram
minha visão que nem vi unção, embora tenha visto bastantes cifrões.
- Eis aí mais um frustrado! Cachorro morto! Chutai-o
longe para não atrapalhar o culto – ameaçou um grupo indignado.
Corpo e
indicador em riste, olhar firme e sem medo, a ponto de fazer recuar os
salientes agressores:
- O
cheiro fétido da rapina de vossos cultos enfastia-me o olfato, o vômito de vossas
crenças inúteis embrulha-me o digestivo, o putrefato de seus sacrifícios
enoja-me o espírito, a ganância torpe de vossa fé escandaliza o meu Deus.
-
Cala-te!
-
Cala-te!
-
Cala-te!
Gritavam
as turbas, os montes, as cavernas, os “crentes”, descrentes, os paletós e as
gravatas...
Levantando
a Bíblia acima de sua cabeça bradou:
- Não
sou eu quem grita. Não sou eu quem brada. A Palavra vos acusa. A Palavra vos
condena. A Palavra vos expõe. Os céus são testemunhas e até as pedras falarão
por mim. A voz que lhes cortam é a mesma que os séculos não calaram, pois
divina, eterna e poderosa ela é. E corta... Espírito – alma, juntas e
medulas...
Alguém passando
apressadamente, sandália de dedos e compras na sacola, olha com desprezo e
ironiza:
- Já
não basta tanta igreja e este besta criando drama. Veja, há uma logo ali, outra aqui e aquela
lá. Vai-te! Pois em qualquer caminho é “amém igreja!”.
Caem-lhe
os joelhos ao chão. Ergue os braços aos céus:
- Não! Não
quero a igreja – metas e seus matemáticos pastores, pois suas ovelhas são
números e não gente. Não quero a igreja – propósitos e seus pragmáticos pastores,
pois suas ovelhas são frutos do estresse planejado. Não quero a igreja –
engessada e seus pastores nostálgicos, pois suas ovelhas cultuam o passado. Não
quero a igreja – empresária e seus pastores executivos, pois suas ovelhas são
produtos de marca e grife. Não quero a igreja – negócio e seus pastores
comerciais, pois suas ovelhas são mercadoria negociável e peças de estoque. Não
quero a igreja – mídia e seus pastores estrelas, pois suas ovelhas são
marionetes não pensantes. Não quero a igreja – feudo e seus pastores senhores, pois
suas ovelhas são vassalas exploradas pelo medo. Não quero a igreja – mística e
seus bruxos pastores, pois suas ovelhas são cegas a caminho do abismo. Não quero
a igreja – quadrilha e seus pastores bandidos, pois suas ovelhas vítimas
incautas.
E continuou...
-
Parem! Parem! PAREM!!! SOCORRO!!!
Juntando
as mãos dobrando o corpo, as lágrimas rolaram na face.
- Eu
quero uma Igreja. Uma Igrejinha. Igreja – gente. Igreja – Corpo. Igreja – Vida e
viva. Igreja que não se venda, que não se dobre, que não minta, que não blasfeme,
que não negocie. Eu quero Igreja – Deus e não igreja – homem, mas que sendo
Igreja – Deus, também seja Igreja – Homem. Eu quero a Igreja! Meu reino pela
Igreja! Eu quero a Igreja do Reino, lavada no sangue do Cordeiro. Eu quero a Igre...!
Zás!
Zás!
Pedras rolaram
em meio aos cânticos. Chutes vieram em meio a “mistérios”. Socos surgiram como milagres. Tapas soaram
como “visões”. Cuspes jorraram em transes e sonhos. Pauladas desceram em atos
proféticos. Pancadas caíram junto a versículos. Paletós e gravatas puxaram-lhes
os cabelos.
O corpo
inerte estendido no asfalto.
- Amém!
Glóoooooooooooooooooorias!!!! – a turba bradou. E, depois, um por um, seguiu
para os cultos de peito lavado e missão cumprida.
Então,
um ateu, crendo, orou a Deus e tentou reanimá-lo.
Um
cético creu, e trouxe-lhe um copo d’água.
Um
católico quis chamar a polícia, mas temeu a turba.
E os
que não dobraram os joelhos (alguém contou sete mil) socorreram-lhe a
vida.
Enquanto isso, dois
transeuntes que observaram toda cena, caminhando tranqüilos comentaram:
- Que
vem a ser tudo isto?
- É
mais um dos delírios dos santos.
E lentamente
seguiram para as catedrais humanas.
Em
Cristo, na Fé e no Caminho.