“Mas Deus escolheu as coisas loucas
deste
mundo para confundir as sábias;
e
Deus escolheu as coisas fracas deste
mundo para confundir as fortes"
(I Coríntios 1 : 27)
De início eu o detestava.
Sua fala era apressada e
aguda, mas havia sempre uma acidez provocativa acompanhada de rara persuasão.
Sua figura esguia, nervosa e desconcertante, porém altiva e nobre ajudava na imposição
de seus argumentos, sempre fervorosos e com o tempo, polêmicos, denunciatórios ...
frustrantes!
Tendo como companheiro um
inseparável e enorme guarda – chuva era dado a discussões acaloradas e
intermináveis. Conversava e opinava sobre os assuntos mais variados, pois era
um atento leitor, ótimo observador dos contextos noticiosos, além de possuir
apurada perspicácia natural oriunda de suas experiências de vida.
Decantava seus trinta e
tantos anos de conversão e não se intimidava com nenhum opositor quando o tema
era relacionado à religiosidade. Discutia com padre, pastor, delegado, prefeito,
vereador, deputado, pai de santo. Fosse quem fosse não o fazia baixar guarda e
contra-argumentava incansavelmente. O que lhe rendeu amargos frutos no decorrer
do tempo.
Eu não o suportava.
Talvez o fato de ter congregado
nas mais diferentes denominações de nossa cidade tenha contribuído para as
nossas desavenças, pois uma das minhas críticas era lhe a falta de raízes
denominacional.
Não compreendi sua busca e
suas angustias, até o Senhor me fazer descer das certezas matemáticas da
teologia de uma era para o chão da percepção humana do outro, às vezes
estendido na estrada precisando de socorro.
Só percebi sua dor quando
inesperadamente foi encontrado agonizando num banco de praça após ter ingerido veneno
para rato.
Ele era um solitário.
Não encontrou o conforto
fraterno por onde passou, mas a distância e a incompreensão.
Não achou o calor da
irmandade, mas a frieza dos religiosos.
Não teve o acolhimento
discipular, mas a rejeição e o desamparo.
Não teve em mim o irmão
necessário, mas o despreparado crítico.
Apesar do estado grave,
Pamcelo não morreu Deus lhe concedeu mais alguns anos de vida. Porém seu corpo
sentiu muito o baque e ficou bastante debilitado. Mas, contrariando os que
achavam que ele se internaria em casa, não se rendeu. Depois que se perdôo do
crime contra a própria vida, reuniu forças e continuou sua batalha contra uma
sociedade pervertida e agora, também, contra uma religiosidade tacanha e
hipócrita.
Procurei ajudá-lo,
tornamo-nos amigos, apesar do trabalho que me dava tentar convencê-lo a não
discutir contra tudo e todos, mas ele insistia em sua luta contra os moinhos de
vento.
Era ridicularizado nas ruas,
o que me doía, mas quem podia demovê-lo de tais idéias?
Era como um Dom Quixote, de
Cervantes e suas imaginárias batalhas ou mesmo o Capitão Vitorino Carneiro, o
“Papa Rabo” da obra de Jose Lins do Rego, Fogo Morto.
Mas não era!
Não era um personagem
fictício em guerra contra os moinhos de vento ou contra cangaceiros e coronéis.
Era um anti-herói zombado pelas praças, porém falando a verdade: “Só Jesus
Salva”.
Pamcelo se foi, Deus o chamou
para o seu regalo, onde os simples e desprezados tem suas feridas curadas e
suas lágrimas cessadas pelo abraço do Pai.
(Evidentemente seu nome não é
esse, troquei as letras de lugar para respeitar sua memória e por não ter
falado com seus parentes sobre o texto).
N’Ele, que jamais desampara,
acolhe e cuida dos humildes.
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